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Foto do escritorDra. Tatiane Crepaldi dos Angos

Se eu ficar doente algum dia e precisar de auxílio, com quem poderei contar?

Já pensou nisso?

Se eu tiver filhos, certamente serão eles. Se não os tiver, um irmão próximo. E se eu for filho único, meus pais zelarão por mim? Meus pais estarão por aqui? Meu cônjuge? Na verdade, são tantos “se” e não sabemos ao certo qual será nosso futuro. Tantas incertezas. Futuro que é incerto e depende do Universo. Já notou que não temos o controle de nada? Falsamente acreditamos que dominamos nossa vida.


Não controlamos o tempo, perdemos a hora. Não controlamos o espaço, ocupamos além do necessário. Não controlamos! Auxiliamos neste ir e vir. Estamos em alto mar conduzindo o veleiro durante a tempestade. Seguros seguimos, porém a tempestade insiste em levar-nos para lá e para cá em um sem-fim dançante. Queríamos seguir adiante apenas. Não dá! Desta maneira, vamos falar do tangível, do que é real. O ideal é que cada um tenha em mente o que seja melhor para si.


Pare. Pense. Reflita.

A autonomia do doente deve ser preservada em todo seu período de lucidez. A independência, também, deve ser mantida sempre que possível. Idosos, doentes ou não, não são bebês. Não os infantilizemos. Eles falam e têm o direito de escolha. Julgamos as pessoas em sua conduta, principalmente, se a ideia geral for contrária à nossa. Negue se for capaz. Se já está em outro nível da raça humana, parabéns. Você é a minoria e todos devemos seguir este caminho. Se parássemos de julgar, a vida seria mais leve. Não existiria bem e mal, seriamos todos os homens uniformes. Não haveria dualidade. Seriamos caridosos, afetuosos, amáveis, atenciosos, compassivos e para isso, não seriamos anjos e continuaríamos seres humanos. Difícil tarefa.



Muitas são as dificuldades: dívidas, uma fechada de carro, a falta do funcionário, uma nota baixa, uma doença grave, enfim muitos são os obstáculos que rompem o equilíbrio. Difícil tarefa. Portanto, se um doente portador de uma doença grave, ameaçadora da vida escolher ficar no hospital nos últimos dias de vida ao lado da equipe que o auxiliou durante o tratamento ao longo dos anos, por que questioná-lo? E se outro, escolher passar este período em um Hospice? (Hospice é um “tipo de hospedaria” no Brasil, ainda em pequeno número, que objetiva cuidar de pacientes em fim de vida.)


E se a Dona Maria escolher ficar em casa ao lado da família, próxima aos netos e bisnetos, recebendo carinho e atenção, podendo realizar atividades que estava habituada, como era de costume como alimentar o gato Joca todos os dias. Seu gato companheiro fiel ao longo de quinze anos. Seria possível? Sim! Filhos, netos, bisnetos se revezam no cuidado diário a Dona Maria e fazem até escala aos finais de semana. Todos sentem prazer em ajudar. Trata-se de uma oportunidade para conviver ao lado de Dona Maria. Tantas são as possibilidades. Receber cuidados de profissionais, “Home Care”, também é uma opção. Não disponível para todos, porque envolve um custo efetivo. E outra opção para a Dona Maria seria receber o auxílio de voluntários, sim, eles existem. São raros, mas existem. Pessoas de bom coração, do bem, cadastradas e treinadas adequadamente para auxiliar no cuidado de doentes que necessitam de atenção, carinho e companhia. Estes podem revezar com os familiares. Doam algumas horas do seu dia no auxílio ao próximo. Precisamos de mais voluntários, é o ideal. Mas, ainda não é o real.


E o que é mais comum? Doentes em casa, sentindo-se um peso aos filhos e aos cônjuges por atrapalhar e modificar a rotina de cada um. Filhos que discutem o tempo todo por não entrarem em acordo pela “escala” programada. Tal dia tenho festa, não posso. Tal dia tenho almoço com amigos, não posso. Tenho escola dos meus filhos. Tenho filhos e você não. Trabalho o dia todo e você não. Não posso. E lá se vão as infinitas discussões... e quem pode? E o que é melhor a fazer? Contratar um cuidador? Levar para um asilo? Vamos internar? Home care 24h? O que é correto a fazer? Não tenho a resposta certa para todos os pacientes. Devemos individualizar, entender a necessidade e a possibilidade de cada família. Não julgar, lembre-se. Não julgue! Aposto que já estava achando um absurdo a rotina da última família. Respire, acalme-se e sinta-se leve. Longe de críticas e juízos. Cada um tem “a sua mala da vida”; a carregamos repleta de objetos, desejos, histórias, sentimentos e conquistas.


Em alguns momentos durante a viagem pela vida teremos que abri-la, organizá-la, tirar algo e colocar algo. É assim a história de cada ser humano. Cada filho de Dona Maria tem sua mala. A Dona Maria tem sua própria mala. E cada um vai abrir e fechar a hora que desejar e achar necessário. Portanto, não os julguemos. Tudo estará na mala. Cabe a nós profissionais auxiliar esta família da melhor maneira, apoiá-la, e tentar encontrar meios que facilite o cuidado, utilizando rede de assistência, voluntários, religiosos, parentes e amigos. Afinal, queremos que a Dona Maria seja bem cuidada e que a família esteja segura e que conviva em harmonia. Somos todos filhos do Amor, não devemos nos perder na raiva, no ódio, no egoísmo e na crítica. O Amor é contagiante, pratique-o.

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